José Boavida

30 anos de carreira marcados por dezenas de trabalhos em televisão, teatro e cinema. O ator deixa saudades!

26 Jan 2017 | 12:10
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Nasceu a 23 de agosto de 1964, em Castelo Branco, na Beira Interior, mas aos 15 dias de vida, José Boavida começou a sua aventura. “Vim, até aos quatro anos, para a Amadora e Queluz [ambas no distrito de Lisboa] e nessa altura fui para Chaves [Trás-os-Montes]. Só que, com 12, voltei para Queluz”, desvendou o ator à TV 7 Dias. Em poucos anos, e já percorrendo o País “de norte a sul”, o sonho de José passava pela área do desporto: “Eu já andava com algumas dúvidas. Tinha feito teatro no liceu, mas em princípio seria professor de Educação Física. Depois acabei por deixar o curso a meio. Era para ser assim, mas não foi. Fiz só o liceu e depois não acabei, não me licenciei.” As dúvidas dissiparam-se anos depois, com a sua estreia nos palcos, em 1984. “Comecei a fazer teatro tinha 20 anos, no Teatro Infantil de Lisboa. Era uma companhia para a infância e juventude, e aquela foi a única peça que se fez para os adultos. Chamava-se António Aleixo, Poeta do Povo.” Desde essa experiência em teatro, seguiu-se, anos mais tarde, o “tendão de Aquiles” de muitos atores dessa altura. “Eu ainda sou do tempo em que, na altura, quando começávamos a fazer teatro, fazíamos aquela coisa que a televisão era algo menor e que o teatro é que era. Ainda demorei um tempo a mudar de ideias aceitar o primeiro trabalho de televisão. Mas depois de ter experimentado, gostei imenso, porque são trabalhos completamente diferentes”, contou. A sua estreia na “caixinha mágica” foi na série Crónica do Tempo, em 1992, e foi o primeiro passo para uma carreira recheada de grandes projetos. “Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Gosto imenso de fazer televisão e cinema, mas teatro é aquilo que mais gosto de fazer. São três linguagens diferentes. É engraçado. A forma como nós nos posicionamos perante elas, a televisão é entretenimento e indústria, mas a forma como nos posicionamos é gira”, continua.

Atrás do palcos

Se o trabalho de ator é um desafio constante, o de encenador não é diferente. Esta é uma das outras atividades em que José Boavida está empenhado. “Demorei muito tempo para dirigir um espetáculo de teatro como encenador. Nós precisamos de ter experiência de vida. Se não temos essa experiência, falha qualquer coisa no que passa para os meus camaradas atores. É evidente que gosto muito mais de ser ator. Serei sempre ator, mas é muito bom e desafiante ser encenador. Gosto muito, mesmo muito. Para ser ator, é preciso uma disciplina enorme, é preciso entender, compreender. Um ator não é uma marioneta, é uma pessoa que tem os seus sentimentos ali, que vai emprestar os seus sentimentos àquela personagem e é muito interessante chegar àquela personagem que não tem nada a ver connosco. Essa é a grande magia. Fingir bem é bom”, continuou. Além deste trabalho por detrás das cortinas, o ator tem também uma grande paixão: a escrita. E desse amor nasceram dois livros: “Crónicas”, em 2013, e “Nunca Te Esconderei o Meu Sorriso”, em 2015, que celebra os 30 anos de carreira do ator. “Já vou no segundo livro. A escrita sempre foi uma coisa que gostei. Comecei a escrever muito novo. Havia um suplemento no Diário de Notícias, que era o DN Jovem, e se nós quiséssemos mandar textos para lá, mandávamos e poderiam vir a ser publicados. E alguns textos meus foram publicados. Escrever, para mim, é como ser ator. É fingir, poder fingir com verdade. As pessoas pensam: ‘Tu és aquele?’ e eu digo: ‘Não sou aquele, mas estou a fingir tão bem…’ As personagens ganham vida”, desabafou. No dia da apresentação desta segunda obra literária, estiveram presentes vários amigos do ator, que chegaram mesmo a emocioná-lo com palavras. “Eu tenho sorte na vida, porque consigo enganar os meus amigos [risos]. Enquanto os conseguir enganar, eles vão sempre ter comigo. É impossível não ficar emocionado. Saber que as pessoas de quem eu gosto estão lá, e sei que não são hipócritas… Quem é que aguenta sem se emocionar?” Exemplo disso foram as declarações de Nuno Janeiro, seu colega de elenco de “Bem-Vindos a Beirais”, na RTP: “É um grande ser humano, grande profissional e grande amigo.”

30 anos… sem arrependimentos!

Foram três décadas, de altos e baixos, dedicadas à arte de representar… mas sem qualquer tipo de arrependimento. “Essa coisa do arrepender… nunca me deu para aí. Se as pessoas se arrependem de fazer alguma coisa, algo vai mal com a vida das pessoas. Não me arrependo de ter cometido erros ou alegrias. Porque me hei de arrepender? Eu sou assim. A minha vida é esta. Sou transparente e toda a gente sabe aquilo que eu sou. Mentir, só minto em cima do palco. Para o resto da vida, não tenho arrependimentos. Claro que fiz asneiras, óbvio, senão não era um ser humano”, disse. Com 30 anos de carreira, José Boavida confessou à TV 7 Dias, meses antes de falecer, não ter um trabalho no qual se tenha destacado mais. Mas confessou que alguns lhe deram um gostinho especial. “Ainda no outro dia estava a ver um filme que gostei muito, “Capitães de Abril”, e também “A Noite do Fim do Mundo”. Em teatro adorei fazer “A Cantora Careca”. Curiosamente, em televisão, tenho sido um sortudo. Fiz o “Médico de Família”, SIC, durante muito tempo e participei noutras séries de sucesso”, contou.

No início do ano passado, José Boavida sentiu-se mal depois de um jantar, tendo ficado em coma cerca de duas semanas. Morreu no dia 26 de janeiro de 2015, não tendo resistido às sequelas de uma paragem cardiorrespiratória. O ator tinha 51 anos.

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