SIMONE DE OLIVEIRA

Foi com “A Desfolhada” que a sua voz de abriu para o Mundo. É hoje uma mulher de garra e um símbolo nacional.

05 Dez 2016 | 10:56
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Foi a 11 de fevereiro de 1938 que nasceu SIMONE DE OLIVEIRA. Cresceu em Lisboa, numa quinta nos Olivais. “Vivi muito. Se vivemos demais é mau, porque o demais não há, não existe”, disse no programa “Alta Definição” (SIC), em 2010. Portugal e o Mundo agradecem o facto de Simone ter querido viver da voz, sempre sem o fazer demais. A sua estreia como cantora, em público, ocorreu em janeiro de 1958, no primeiro Festival da Canção Portuguesa. Depois, estreou-se no teatro de revista em 1962. Em 1965 ganhou o Festival RTP da Canção, com o tema “Sol de Inverno”, e representou Portugal no Festival da Eurovisão realizado em Nápoles. Foi eleita Rainha da Rádio.

Em 1969 foi o marco da carreira de Simone. “A Desfolhada” lançou-a para as luzes da ribalta. A canção esteve para ser cortada pela censura, que nessa altura via nos versos uma crítica mordaz, mas bem dissimulada, a certos aspectos da vida portuguesa. Acabou por ser aceite. Deixou de ser uma cidadã anónima e passou a ser uma menina irreverente. A sua frontalidade não era encarada da melhor forma. “Até fui insultada nos restaurantes. No ano em que fui à Eurovisão cantar o Sol de Inverno tinha uma relação amorosa com o Henrique Mendes. Ele tinha tirado férias sem vencimento para poder ir comigo. Fomos os dois chamados à televisão e proibidos de irmos juntos, porque era uma coisa que caía mal ao País…”, disse a uma publicação diária, em 2002.

Depois de “A Desfolhada”, Simoneficoutrêsanossemcantarporqueperdeu a voz. “Foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Se não tivesse perdido a voz, tinha continuado a ser a menina dos festivais. Perdi a voz e apareceram em Portugal o Zip-Zip, as baladas, o Fernando Tordo, o Carlos Cruz… Quando voltei a cantar, pensei: ‘É por aqui que tenho de ir’”, disse.

Voltou às cantigascomumavozmaisrouca. Em 1980 representouPortugal no Festival da OTI, em BuenosAires, com “À TuaEspera”. A orquestralevantou–se para a aplaudir. Arrecadou o prémio de Interpretação do FestivalIbero-Americano da Canção. Em 1981 editou o álbumSimone. “Fiz tudo. Muita revista, cantei, fiz rábulas, tive o terceiro lugar, o segundo, o primeiro… varri o chão, engomei roupa”, contou. Na televisão, nos anos 80, apresentou Piano Bar. Foi um dos jurados da 1.ª edição do concurso “Chuva de Estrelas”, da SIC, apresentado por Catarina Furtado. Em 2009 foi comentadora do programa “Fátima”, na SIC.

“Essa coisa de que eu tenho uma força que não acaba não é muito verdade. Eu tenho uma certa força. Eu própria me espanto comigo!” É assim que Simone de Oliveira se descreve, mas a verdade é que, para o público em geral, a cantora e atriz é uma mulher sem medos. “As pessoas ou gostam de mim ou me detestam”, continua. Em 2011, o seu valor foi ainda mais reconhecido. Nos Globos de Ouro (SIC), Simone de Oliveira foi distinguida com o prémio Mérito e Excelência. Recebeu o prémio das mãos de Francisco Pinto Balsemão e não conteve a emoção. “E agora o que é que eu digo? Há ocasiões em que as palavras estão gastas, como diria o poeta (…) Acho que Será para sempre uma das vozes mais reconhecidas do País (…) chegar aqui foi porque a vida me deixou chegar aqui; chegar aqui foi porque os poetas, os músicos e quem me dirigiu me deixaram chegar aqui. Naturalmente também os iluminadores, os homens do microfone, a mulher que me levou os cigarros, o meu querido Parque Mayer, todas as pessoas mais velhas com quem eu trabalhei e todas as pessoas mais novas com quem eu tenho trabalhado. Com todos aprendi. Estes 73 anos têm valido a pena. Muito obrigada a vocês aqui, a vocês aí em casa, companheiros, amigos… Muito obrigada a quem tem as minhas mãos sempre abertas. Um até sempre!” Foi assim que Simone se dirigiu aos presentes, já com o Globo de Ouro na mão. Mas esta não foi a única homenagem feita a Simone. Durante os seus anos de vida e mais de meio século de profissão, muitos foram os espetáculos dedicados à consagrada artista que, aquando da celebração de meio século de carreira, fez o seu primeiro Coliseu, com um show inesquecível, que valeu momentos de grande emoção para a artista. “Para além do espetáculo em si e de os meus colegas terem tido a gentileza e a humildade de cantarem canções que eu tinha cantado, houve um momento particular, que foi aquele momento da guerra de África onde o Gospell cantava aquela cantiga ‘onde estão os mortos’, e eu estava sentada na plateia. De repente tive um ataque de choro porque me lembrei e porque estive lá”, confessou a Judite Sousa na “Grande Entrevista”. “Tenho uma grande melancolia e uma grande tristeza. É olhar para as minhas fotografias e ver os olhos. É tão simples como isso”, revelou a uma publicação diária em 2002. Para os portugueses, Simone de Oliveira será sempre a menina d’ “A Desfolhada”, a menina vencedora e a senhora de personalidade forte que elevou o nome de Portugal numa altura difícil para o País.

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